F e r n a n d o C o r r e i a a r t i s t a v i s u a l
A natureza e o cotidiano como alfabetos cromático sensoriais
A natureza torna a vida bastante dura àqueles de quem deseja extrair grandes coisas
Charles Baudelaire sobre Edgar Allan Poe
A pesquisa artística de Fernando Correia em uma de suas projeções está direcionada a construir cromaticamente naturezas peculiares, a própria natureza, uma natureza que com matizes próprios se expande a corpos, formas e tempos em que aflora a premência da percepção, do transcendental e da memória em suas acepções de lembranças e inserções revisitadas do trilhar da humanidade, sobretudo na Arte.
Assim o artista visual oferece aforismos e manifestos visuais; aforísticos, expansivos sensorialmente onde a maleabilidade pictórico cromático vislumbram como protagonistas.
Tanto na série onde que artista visual aborda um cotidiano particular como nas criações de sua própria natureza saturada cromaticamente, com predomínio dos vermelhos; Correia os converte em lugares extraordinários, como o é tempo e a resiliência por alcançar com peculiar maestria os resultados nas obras de arte que disponibiliza. O artista cria seu próprio pantone cromático, cartográfico, espacial, conceitual e simbólico . Na série Sonhos, 2024, por exemplo o azul é para a representação da vegetação comestível, azul para a parte superior e vermelho a da parte inferior. A natureza transmutada, como pontua o artista, como possibilidade e pretexto de apresentar estados alterados de representações. A realidade apenas como tema para construir peculiares manifestos visuais. Como nas paisagens predominantemente vermelhas, mencionadas anteriormente onde Correia troca o verde simbólico da natureza pelo vermelho e destaca o tronco das árvores com o verde tradicionalmente utilizado para representar as folhas e galhos vivos, por exemplo. Um dicotômico e peculiar estado de representação
Ao mesmo tempo nas obras de arte da serie vermelha o artista valida a representação mutante dos reflexos como espelhos ou como o próprio artista se coloca no seu lugar na obra para nos oferecer pela materialidade das cores e camadas, subjetividades referenciais e associativas em todas as modalidades artísticas contemporâneas que explora: pinturas, desenhos (desenhos como calendários cronológicos ou como processos para as pinturas), cerâmica, esculturas, etc.
Na sua poiésis, Correia, ainda, recorta frames de seu convívio para desatar nós da experiência, da convivência, das parcerias e nos coloca num lugar de investigação e instigação. Uma memória impossível de ser tangível, por exemplo.
Da pintura e seu trânsito à contemporaneidade na sua linha de expansão e contaminação nas grades como metáforas de uma estrutura doméstica com um esquema de cores que prioriza percepção & saturação para provocar dicotomias no referencial hibridizando-as à novas fonéticas e semânticas sensoriais. Camadas sobre camadas de materiais pictóricos e subjetividades, de fazer pessoal e apropriações cronológicas da arte como o surrealismo por exemplo.
Um alfabeto visual diferenciado e único!
Correia constrói fábulas visuais do cotidiano (objetos reconhecíveis como corpos diferenciados, corpos anatômicos prolongados aos diálogos com os registros assimétricos e conturbados com possíveis realidades vivenciadas), trepitantes e únicas floras e faunas a partir de dinâmicas onde o pigmentos policromáticos viram corpos e estes palavras de cores e luzes em movimentos dialéticos que fazem da pesquisa artística de uma ressonância, prospecção e irradiação originais.
Andrés I. M. Hernández
São Paulo, verão de 2024